1. Quais são as principais manias que os pais colocam nas crianças e quais os problemas que elas trazem?
Desde o nascimento do herdeiro, a mamãe nunca mais é a mesma. A cada choro, um sobressalto para a mãe. O que ele tem, e agora o que eu devo fazer? Tranqüilidade e muita calma nessa hora são fundamentais para mãe e filho, que aos poucos entram em sintonia e vão se entendendo. Afinal, o choro é a única e, diga-se de passagem, a mais poderosa maneira que o bebê tem de se comunicar, de atrair a atenção para si ou para o que ele quer ou para o que ele está sentindo. Na maioria das vezes, a mãe tranqüila acolhe o filho em seus braços, canta uma canção ou conversa com ele, que se acalma e sente-se protegido.
É comum que mamães e papais (principalmente os "marinheiros de primeira viagem") não agüentem ouvir o choro do nenê, ainda mais quando ele está sozinho em seu lindo e decorado quarto... eles ficam com o coração apertado e não agüentam a angústia que cresce dentro do peito. Ambos, pai e mãe, se olham, um friozinho surge na barriga junto com um sentimento de agonia e então, o papai ou a mamãe, quem tiver o coração mais "mole", corre até o berço do "baby" e o pega apertado em seus braços e o coloca bem no meio da cama do casal. Ah, o bebê e os pais ficam em êxtase! Quem nunca viu esse filme?
Na maior parte das vezes o problema está mesmo no casal ou em um deles, pai ou mãe. Por vezes é o pai que trabalha fora o dia todo e fica culpado, sentindo-se ausente e então, quando chega em casa à noite, quer ir à forra, ou seja, ficar o maior tempo possível com o filho, pois assim ele minimiza a sua culpa.
Muitas vezes, o pai (mãe) cresce sentindo-se carente e rejeitado pelos pais, pois estes nunca o permitiram maior contato com eles e então também tentam fazer de tudo para inverter tal situação no filho, ou seja, "meu filho não vai passar pelo que eu passei", e pode ficar permissivo demais e super protetor ao extremo, cedendo a todo e qualquer capricho do filho.
Tem sido cada vez mais comum ouvirmos os pais falarem sobre os seus próprios medos, ou seja, da violência, de bala perdida, de assalto, de babás abusadoras de crianças, e todo o tipo de medos em relação aos filhos. E em casos como esses, é comum que o pai /mãe passe o próprio medo para a criança e quando ela (criança) diz que tem medo de ficar sozinha no quarto, a mãe/pai se identifica com os medos do filho (pois na verdade os medos são deles, pais) e sentem muita pena (lembrar que pena é pra galinha, criança precisa de educação e limites adequados) do filho ficar sozinho no quarto e o final a gente já sabe, ou seja, os pais permitem que os filhos durmam com eles.
Em outras situações, o próprio casal já vem passando por um período "morno" ou "frio" do relacionamento e nada mais confortável do que colocar o "pimpolho" entre eles, já que assim o motivo da não intimidade do casal seria, claro, por conta do filho.
2. Dormir junto com os pais pode afetar a criança em algum aspecto?
O problema é que os anos vão passando e esse tipo de conduta vai ficando cada vez mais reforçado e estruturado na criança que, com o tempo, acaba se achando no total direito de usufruir de um quinhão da cama dos pais, que dentro desse contexto, ela já se sente a "dona" também! E afinal, o que pode ser melhor para o filhinho, que ficar bem no meio do "papi e da mama"?
O pior é que, não raramente, esse tipo de atitude traz conseqüências nada agradáveis para pais e filho e quanto mais crônico o problema, mais difícil será lidar com isso e de sanar a questão.
Para não falar da falta de privacidade que tal comportamento gera entre o casal.
Assim, a manutenção do hábito de deixar os filhos dormirem na cama dos pais também pode gerar problemas para a/s criança/s, como labilidade emocional, insegurança, ansiedade, problemas psicossomáticos e muitas podem desenvolver, mais adiante, o que chamamos de transtorno de ansiedade de separação, o que acaba gerando problemas no dia-a-dia da criança, tanto nos relacionamentos sociais como problemas na escola. Já vi muitas crianças ficarem super controladoras e mandatórias em casa, manipulando e dominando toda a família.
3. Qual o primeiro passo para tirar essas manias das crianças?
Todos os estudos com crianças mostram como é importante colocar limites e regras claras e objetivas na hora de dormir, desde o início, pois uma boa higiene do sono leva a hábitos sadios e crianças mais saudáveis e motivadas para a vida.
Quando a criança entende que ela tem o seu horário pré-definido de dormir, ela naturalmente programa melhor o seu tempo e passa a dividir melhor as suas tarefas dentro do período, ficando uma criança mais organizada e com melhor desempenho durante o dia.
A falta de limites e a falta de bom senso podem arruinar com a dinâmica familiar. É preciso que os pais sejam amadurecidos e que consigam estabelecer regras saudáveis dentro de casa e que quando isso for difícil para o casal, o mais conveniente é que eles procurem ajuda psicoterápica para colocação dos limites e espaços de cada um.
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência. Para saber mais, acesse: www.evelynvinocur.com.br
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