Engana-se quem pensa que a vida no útero é confinada, monótona e desagradável. Ao contrário, o mundo do feto está cheio de atividades, emoções e é riquíssimo em aprendizado e conquistas. Afinal, em nove meses o bebê deve estar preparado para enfrentar as grandes mudanças pelas quais obrigatoriamente passará logo ao nascer.
O meio ambiente do útero também é diferente do que, até aqui, imaginamos. A voz da mãe, os sons do sangue dela correndo pelas artérias, o dos batimentos de seu coração e aqueles produzidos pela digestão podem ser percebidos pelo feto. Como se sabe, a atividade cerebral se inicia na sexta semana de vida. Ou seja, desde cedo.
Os médicos Marshall e Phyllis Klaus, no livro O Surpreendente Recém-Nascido (Ed. Artmed) chegam a afirmar: “No útero, há uma sinfonia de sons e vibrações. Microfones minúsculos colocados junto do feto, ao seis ou sete meses, revelaram que o volume dos sons maternos é apenas um pouco mais baixo que o de uma rua movimentada.”
E, cada vez mais, ele reage a certos estímulos. Quer ver? Por volta da 28ª semana, experimente encostar a barriga em um caixa de som. A música fará com que seu filho acorde e logo comece a se mexer.
A função dos movimentos
Como poderia desenvolver músculos e ossos, exercitar as articulações e colocar em ação o cérebro sem se movimentar? O líquido amniótico, onde parece flutuar, favorece este vai-e-vem de bracinhos e pernas, o espreguiçar, o encolher-se e esticar-se.
Em geral, até por volta do quinto mês, a mamãe ainda não é capaz de sentir o bebê dentro de si. Nenhuma movimentação. Entretanto, apesar de bem pequenino, ele está longe de ficar parado. Com sete semanas somente, é capaz de dobrar o cotovelo e o joelho. Em torno da 13ª ou 14ª semana, uma grande conquista: braços e pernas se movem ao mesmo tempo e o feto consegue levantar o braço. Daí para a frente, as habilidades vão se sofisticando. Os movimentos ganham mais e mais coordenação.
Uma prova de todo este esforço? Colocado sobre a barriga da mãe, logo depois de nascer, o bebê impulsiona seu corpinho até alcançar o seio, usando pernas e braços, demonstrando que treinou por muito tempo para conseguir esta proeza, provocando admiração logo na chegada.
Cada um em seu ritmo
A diversidade não se inaugura quando nascemos. Nós somos diferentes um do outro, desde a concepção. Esta afirmação não se refere ao físico somente. Dormir mais ou menos, agitar-se com maior ou menor freqüência, reagir aos estímulos externos com intensidade ou não. Em boa parte, isto depende do temperamento de cada bebê, que foi determinado, em parte, pela carga genética. Converse com uma amiga que já engravidou mais de uma vez e ela certamente lhe dirá quanto os filhos já manifestavam claras diferenças, ainda na vida intra-útero.
Mas não se pode negar também a influência que a mulher tem sobre o feto que cresce em sua barriga. Está mais que provado o quanto ele pode ser afetado por mudanças bioquímicas ocasionadas pelo que a mãe está vivenciando, suas atividades, tensões e pelas emoções que experimenta a cada momento.
Se a grávida passa por situação estressante como uma perda ou sérios problemas no trabalho, se está doente ou se machuca gravemente, o bebê está bem, mas é capaz de ficar , por algum tempo, mais quietinho, sem dar tantos pontapés e cambalhotas, como costuma fazer. Muitas vezes, quando o estresse é crônico, ele tem o ritmo do seu coração acelerado e se mostra irrequieto e hiperativo.
O prazer da descoberta
Com um pouco de atenção, a mamãe acompanha todas estas atividades e respostas. Conecta-se com o filho que está a caminho. Mãos sobre a barriga, a cabeça repleta de pensamentos positivos e de mensagens de amor. Assim, se estabelece uma espécie de diálogo que enriquece muito os nove meses da gestação e aumenta a felicidade na hora do parto.
Alguns instantes depois de vir ao mundo, o recém-nascido procura os olhos da mãe e olha fixamente o rosto dela. Mas a verdade é que a aventura juntos já começou há muito tempo.
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