O que mais você tem de seu nessa vida é o nome. Então, o que levar em consideração na hora de decidir como o bebê será chamado? São inúmeras opções e motivos que podem levar à decisão final: homenagem a alguém da família ou a um ídolo, significado, tradição etc. Porém, é preciso cuidado. A escolha de um nome exótico para o filho pode gerar insatisfação no futuro. "Como sua identidade, ele vai determinar uma série de coisas: da personalidade a preferências ao longo da vida e poderá ter uma conotação tanto negativa quanto positiva para essa criança", afirma o psicólogo Alexandre Bez.
Que o diga Auto Barbosa Silva, de 24 anos. Há quatro gerações na família, o nome Auto já rendeu muito falatório. "Sempre ouço piadinhas dos amigos, do tipo 'esse cara tem autoestima' ou 'ele é dono de uma automecânica'", conta ele, que garante que hoje em dia lida bem com as gracinhas alheias. Mas você deve estar se perguntando: afinal, porque o nome Auto? "O meu tetra avô achava que seu filho seria alguém 'alto', mas, por ser descendente de escravos, não tinha uma escrita muito boa e acabou errando uma letra e colocando o nome no meu bisavô de Auto. Como ele foi um homem muito respeitado, colocaram esse nome também no meu pai. E em respeito ao seu avô, meu pai me deu o seu nome", relembra Auto.
Já com a estudante Brisa Abdula Casali, foi uma canção que serviu de inspiração para o papai na escolha do seu nome. "Meu pai é da Marinha e sempre amou ficar na frente do navio sentindo aquela leve brisa, mas ele garante que não foi por esse motivo que escolheu meu nome, e sim por causa de uma música do Milton Nascimento - Travessia - que diz: 'Sonho feito de brisa'", acrescenta.
Ser "incomum" também faz parte da vida da estudante Leiliane Pereira Guerra, de 16 anos. Ela ganhou o nome em homenagem a duas pessoas que sua mãe admira: a jornalista Leilane Neubarth e a pediatra Eliane. "Minha mãe sempre adorou nossa pediatra, porque ela fez tudo para salvar meu irmão. Até hoje, tem todo dia dos médicos, manda presentes para ela, que era branquinha, magrinha e de olhos claros assim como a Leilane (repórter), com seus cabelos ruivos e olhos vibrantes. Então, minha mãe fez a junção dos dois nomes e me registrou como Leiliane", relembra. Mas ela confessa que, para evitar confusões, já que ninguém acerta seu nome, os amigos e até os familiares a chamam por apelidos. "Eles sempre me chamam de Lane, acho que é mais fácil", diz.
E a tradição é de família: nomes incomuns não faltam na família de Leiliane. "Na minha família, os nomes já são diferentes por herança. Minha mãe tem uma tia que se chama Escolástica e uma prima chamada Pichita. Minhas irmãs e eu temos todas L no nome. É Lindalva, Letícia, Lilian e Leiliane. Meu irmão, o único a fugir do L, se chama Idalto, em homenagem a um vizinho que se chamava Adalson (meu pai não gostou muito da idéia, pois ele queria Jeorge Willian). E minha avó colocou o nome de todas as filhas com Maria. É Maria Marilene, Maria Dolores, Maria Lindalva e Maria Sueli. E meu irmão colocou o nome das três filhas com Qu. É Quevelim, Quemelim, Querolim. Só não colocou com K porque, na época, o cartório não permitiu. Minha irmã Lilian, para completar, quer colocar os nomes de todos os filhos com J: Jordam, Jocelyn", revela.
E o orgulho é tanto que muitos até já pensam em propagar a tradição do nome. Há quatro gerações na família, Auto pretende manter o nome no clã dos Silva, mas garante que a tarefa será árdua. "Sempre achei que não teria problema algum pôr o nome de Auto no meu filho, mas isso vai depender de uma boa conversa com a esposa. Não posso simplesmente impor minha vontade, pois o filho é dos dois e nem toda mulher quer um nome tão diferente. Das namoradas que tive, nenhuma gostou muito da idéia. Não é uma coisa muito comum, do tipo 'que gracinha, seu filho se chamará Auto'", ri.
No caso de nomes escolhidos em homenagem a terceiros, o psicólogo Alexandre Bez faz um alerta: "É muito comum o casal se identificar tanto com um filme a ponto de colocar o nome do ator ou do personagem na criança a título de homenagem. Mas os pais precisam ter em mente que seu filho não terá a personalidade daquela pessoa. Não adianta pôr o nome de Michael Jordan na criança e esperar que ela seja um jogador de basquete, por exemplo. Pode ser que ela não tenha altura ou habilidade para isso. Cada pessoa é diferente", adverte.
Não restam dúvidas de que escolher o nome da criança é uma grande responsabilidade. "Antes da escolha do nome, os pais precisam pensar no que os filhos vão achar do nome. E, se ele for muito diferente, precisam decidir se esse é um risco que desejam correr. É preciso pensar bem para não serem taxados de 'culpados' mais tarde", afirma Griseldes. E o psicólogo Alexandre Bez é enfático: "É preciso tomar muito cuidado, pois um nome exótico pode perder essa função e cair no ridículo, trazendo conseqüências negativas para essa criança, como os coleguinhas debochando na escola (bullying)". Para Leiliane, tudo é questão de bom senso. "Com um nome muito estranho, as pessoas vão acabar fazendo piadinhas. Bom mesmo seria se a criança depois de nascida pudesse decidir que nome quer ter!", opina.
Opção sua
A lei permite a qualquer cidadão brasileiro mudar de nome caso ele cause constrangimento ou, de forma facultativa, até seis meses após a pessoa completar 18 anos. Basta pedir na Justiça a alteração do Registro Civil. Esse foi o caso do estudante Wonarllevyston Garlan Marllon Branddon Bruno Paullynelly Mell, de apenas 13 anos. Sua mãe, Dalvina Xuxa, entrou com o processo de retificação de registro civil em abril de 2007 pois seu filho sofria durante as chamadas na escola. Em agosto do mesmo ano, Wonarllevyston se tornou Bruno.
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