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Vestir fantasias infantis é bom ou ruim?

A filha pede para ir à escola vestida de princesa e bate aquela dúvida: será que tudo bem? Isso vai ajudá-la? É só uma brincadeira ou há algo escondido nessa ação? A verdade é que usar uma fantasia pode ser muito bom e ajudar no desenvolvimento da criança. Mas, em algumas situações, pode atrapalhar bastante. Conheça o lado bom e o mal desse comportamento e aprenda a diferenciar uma situação da outra.




Lado bom


O vestido da Cinderela, a máscara do Homem-Aranha, a varinha da Fada Madrinha ou um simples pano transformado em capa. Tudo é válido quando a criança entra no mundo do faz de conta. Entre os 2 e 5 anos, prepare-se para os pedidos frequentes: eles querem se fantasiar! Na escola, nas festas, no restaurante e em casa. E isso é muito bom. A fantasia, de certa forma, fortalece o ego infantil. Além de divertir e incentivar a criatividade, a criança tem a chance de se sentir diferente, de experimentar outras linguagens, de incorporar personagens e suas habilidades. E com isso enfrentar obstáculos e medos e resolver conflitos internos e externos. Ela se sente mais forte, segura e pode ter a coragem de expressar melhor seus sentimentos. Ao usar uma fantasia de bruxa, por exemplo, poderá assumir uma agressividade que estava contida pela culpa.


“Esse mundo mágico entra em cena justamente no momento em que enfrentar a realidade é, muitas vezes, difícil. É muito mais fácil projetar sentimentos em super-heróis, bruxas e todo tipo de personagem. Essa fase é normal e importante, pois auxilia a criança a lidar com situações do dia a dia de forma positiva para o seu desenvolvimento”, diz Ricardo Halpern, presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria.


Aproveite esse tipo de atividade para observar seu filho e aprender mais sobre ele. Muitas vezes, o personagem escolhido e suas ações no decorrer da brincadeira demonstram o que a criança é e o que está sentido. E, para possibilitar essa chance a ela, não é preciso nada muito elaborado. “Um lenço na cabeça já é válido. Não é necessário comprar todas as fantasias que a criança quer. O consumismo exagerado pode se tornar um problema”, alerta Renata Americano, coordenadora geral do Fundamental 1 (de 2º a 5º ano), da Escola Viva, em São Paulo. Os pais podem oferecer opções, deixar um caixa com chapéus, perucas, tecidos coloridos, por exemplo. Mas não precisam incentivar o consumo das fantasias industrializadas – a própria criança se encarregará de requisitá-las. Coloque um limite ou você terá toda a liga de superamigos no guarda-roupa do seu filho. “Os adultos, às vezes, até preferem a fantasia pronta porque a conhecem, sabem sua história e suas características. Uma fantasia que a criança cria sai do controle, não tem roteiro e isso angustia os pais”, diz a coordenadora Renata.


Quando a criança não mostra interesse em fantasias, isso aponta para certa rigidez, incomum em uma fase tão própria para o faz de conta. Pode ser o caso de os pais incentivarem, brincarem junto e até procurarem ajuda especializada. “Mas a fantasia deve ser escolhida com a participação da criança, observando seus gostos e interesses. O personagem deve ter um traço de identificação porque, assim, torna-se um brinquedo dotado de valor afetivo e simbólico”, ensina Maria Cecília Souza Biglia, psicanalista da Clínica Agrupar – Infância, Adolescência e Família, em Salvador (BA) e fundadora do Coisário Ateliê – Brinquedos, Fantasias e Oficinas Brincantes.






Lado mau


O lado mau da fantasia é justamente o exagero no que ela tem de melhor: na possibilidade que a criança tem de enfrentar seus medos. Seu filho não pode deixar de entrar em contato com o mundo real. Ir vestido de Batman no primeiro dia de aula é saudável. Mas repetir a fantasia em todos os demais dias da semana, não. “É o João e não sempre o personagem que vai à escola”, diz a coordenadora Renata. “Os pais precisam dosar o tempo de permanência com a fantasia.”


Quando a criança assume totalmente as características de uma personagem, os adultos também devem ficar atentos. Não é comum, mas pode acontecer. “Quando não há nenhuma distinção entre um e outro, a situação deixa de ser faz de conta para se tornar literal! Se isso acontecer de um modo muito contundente, necessitará de atenção ou até de uma avaliação especializada. Em geral, os pequenos sabem muito bem diferenciar o real da fantasia, apesar de a imaginação infantil ser tão fértil”, diz a psicanalista Maria Cecília.


Outra situação perigosa é quando a criança acredita que tem os poderes do herói. São comuns os episódios em que o pequeno, munido de capa e espada, tenta voar. Também ficou famoso o caso de um garoto que tirou o irmão do berço, com a casa em chamas. Mas nem sempre o final da história é feliz. Por isso, é importante ter alguém sempre olhando as crianças menores em suas atividades e observar o quanto as mais velhas compreendem a situação. “O ideal é que, com 4 ou 5 anos, elas já saibam separar bem a realidade da fantasia”, diz a coordenadora Renata. “Algumas fantasias de super-heróis contêm, inclusive, uma etiqueta de advertência, esclarecendo que a capa não permite voar. É um bom mote para conversar com as crianças sobre esse limite, inclusive lembrando que até o Super-Homem é abalado pela kriptonita, ou seja, nem ele escapa de ter fragilidades e pontos fracos”, diz a psicanalista Maria Cecília.


Aos 4, 5 anos, é comum o uso da fantasia diminuir. Os pedidos para vesti-la ficam espaçados porque os interesses mudam. As crianças estão desenvolvendo a lógica do pensamento concreto e começam a substituir a fantasia pela realidade. E em sua vida social já não “fica tão bem” usá-la. O traje acaba sendo procurado apenas para a diversão. Quando, nessa idade, a criança ainda quer usar a fantasia com frequência, é necessário investigar suas razões, seu contexto de vida e observar se a realidade não está pesada demais para sua fase de desenvolvimento.

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