Noite em casa que tem criança é quase sempre um agito. Pais são despertados no meio da madrugada com choros ou cutucões nos ombros e um aviso: "Acordei!" Difícil encontrar uma família que não tenha relatos dessa experiência. No primeiro ano do filho, são as conquistas como andar, falar, correr ou mesmo pular que podem tirar o sono. Para os especialistas, a partir do segundo ano, o principal motivo é o envolvimento infantil com o mundo da fantasia. "Os sonhos ficam mais intensos, podem virar até pesadelos por conta da imaginação", afirma a neuropediatra Márcia Pradella Hallinan. Em geral, nesses despertares, a criança senta assustada na cama, grita ou chora, porque tem dificuldade em diferenciar realidade de fantasia.
Desejo frustrado
Mas nem sempre o que a criança sonha é algo traumático ou amedrontador, segundo a psicóloga e psicanalista Mira Wajntal. "Às vezes, o sonho pode provocar uma sensação desagradável levando ao despertar. É como se o corpo precisasse se defender desse sentimento desconfortável acordando", diz Mira.
O aprendizado de uma nova atividade, como andar de bicicleta ou ler, também pode agitar o sono. Outros motivos são mudanças importantes de rotina. Pode ser o nascimento de um irmão ou mesmo um dia especialmente cheio de atividades para a criança. "Às vezes, essas alterações provocam uma insônia temporária, mas que não é problema. Os despertares noturnos merecem atenção quando se tornam muito freqüentes, prejudicando a atividade diária da criança, e se acompanhados por outros sintomas, como apatia ou falta de apetite", alerta a professora de psicologia Isabel Kahn Marin. Mas o comportamento freqüente ainda pode estar associado a hábitos familiares. "Filhos de pais insones se identificam com os adultos e passam a dormir mal", observa a psicanalista Mira. Nesses casos, a criança tem prejuízos. "Enquanto ela dorme, ocorre uma intensa atividade cerebral, relacionada à retenção de imagens na memória, mecanismo que ajuda no aprendizado. Além disso, o sono ativa a produção do hormônio do crescimento, também responsável pela renovação celular do organismo", diz a neuropediatra Márcia.
O que fazer?
Dormir mal é diferente de despertar de madrugada. Se seu filho faz parte do primeiro time, é importante investigar as causas com o pediatra. No outro caso, basta acolher a criança e acalmá-la. "O único cuidado é acostumar o filho a voltar a dormir sozinho na própria cama", ressalta a psicóloga Isabel Marin. Para pais que ficam pouco tempo com os filhos, é um exercício difícil de ser cumprido. "Assim, os pais correm o risco de tornar-se escravos de uma situação. Além disso, não estão incentivando a independência da criança. Permitir que ela volte a adormecer sozinha, talvez com a ajuda de um brinquedo ou outro objeto, também significa lhe dar autonomia", conclui a neuropediatra Márcia.
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