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Quando começa a vida? Opinião dos especialistas

A vida humana começa quando o espermatozóide se une ao óvulo? Ou no momento que o coração passa a funcionar? Há quem cite o terceiro mês da gestação, época em que o feto adquire a consciência. Tantas e por vezes, tão contraditórias abordagens, nos levaram a ouvir médicos, psicólogos e psicanalistas sobre o assunto. Conheça a opinião de cada uma deles.










Luiz Fernando Dale


Especialista em Reprodução Humana






O que podemos chamar de vida? O ser vivo em sua plenitude ou cada uma das células que compõem este ser? Se pensarmos em células como vida, vamos classificar assim o espermatozóide, que é uma célula com movimentos. Mas nem por isso temos qualquer problema em testá-lo em laboratório e descartá-lo depois.






Em nosso trabalho, colocamos um conjunto de células (pré-embrião) no útero, mas apenas 30% destes procedimentos evoluem para uma gravidez. Ao se implantar e interagir com o organismo materno, claro que o embrião já estará vivendo, mas não temos capacidade de vê-lo. Neste momento, ele pode ser apenas um aglomerado de células que a natureza talvez vá eliminar mais tarde.






Nós, médicos, trabalhamos com evidências, não com suposições. Assim, penso que a primeira visão da vida é aquela dada pelo ultra-som, no 6º mês de gravidez, mostrando os batimentos cardíacos do embrião.










Camila Dedivitis Tiossi


Cardiologista






Cientificamente, a junção do óvulo com o espermatozóide, criando uma célula viva que irá se multiplicar milhões de vezes, seria o início da vida. Mas, eu acredito que a vida possa começar antes mesmo da concepção. Por exemplo, quando o casal recorre a um serviço de fertilização em busca do filho tão desejado. Em seus sonhos, esta criança já existe. Em contrapartida, há casos em que o ser, mesmo já concebido, não existe na perspectiva de seus geradores. Aqui, seguramente, a vida ainda não começou.










Abouch Krymchantowski


Neurologista






No momento em que o embrião adquire um formato de corpo, com o coração bombeando o sangue e o tubo neural formando o esboço do futuro cérebro, podemos dizer que a vida começou.






Algumas pessoas acham que ela se inicia com a formação do ovo ou zigoto (junção do óvulo com o espermatozóide). Já outras admitem sua presença quando o recém-nato respira pela primeira vez. Mas, há provas científicas que evidenciam a consciência do feto a partir do 3º mês de gestação – pelo aprendizado de vivências e pela experimentação de sensações agradáveis, através da liberação de endorfinas em seu cérebro. Na minha opinião é aí que a vida se inicia: do 2º para o 3º mês da gravidez.










Márcia Modesto


Psicanalista. Terapeuta familiar sistêmica






Considero que a vida começa no momento da concepção, quando o óvulo encontra o espermatozóide. Ali se inicia uma nova história, com um novo personagem entrando no palco da vida. O casal envolvido na situação vai estabelecendo, através de suas expectativas, o perfil desta pessoa e seu papel dentro da família.






Ao mesmo tempo, estudos e experiências comprovam que existe um psiquismo fetal; ou seja, que o embrião capta as emoções da gestante e é sensível às situações que ocorrem fora do útero materno. Por isso mesmo, o equilíbrio da futura mamãe, da família, e a harmonia do ambiente são fundamentais para um parto tranqüilo e bem-sucedido. Assim como conversar com o filho, ainda na barriga, transmitindo sentimentos positivos e alegria pela sua chegada. Portanto, se há receptividade, se existem emoções, é porque já existe vida.










Cristina Milanez Werner


Psicanalista






Muitas perguntas como esta, aparentemente simples, às vezes, encerram questões complexas e variadas. Talvez a maioria das pessoas opte por uma resposta de cunho biológico e imediatista, como: “no momento da concepção, é claro.”






Eu não concordo. Como terapeuta de família, não trabalho com a concretude, com a presença física dos membros da família, mas com sua representação mental, envolvida pelas significações emocionais, afetivas, e pela vivência relacional (força no sistema familiar) desta pessoa – quer ela esteja viva, morta ou ainda por nascer.






Assim, considero que a vida começa no momento em que os futuros pais e/ou avós, tios e irmãos passam a falar, a imaginar, a se “relacionar” com este ser que, concretamente, só virá daqui há alguns meses e, em certos casos, até anos. Quem não conhece casais que escolheram o nome do bebê, ou compraram roupas e brinquedos para ele mesmo antes de “engravidarem”?






Se pensarmos bem, todos nós cometemos, um dia, atos como estes, inspirados pelo desejo de partilharmos nossas vidas com um pedaço de nós mesmos: um filho. Portanto, a vida emocional começa antes da biológica. E vai sendo construída, pouco a pouco, no ideário pessoal, conjugal e familiar. No momento do nascimento biológico, toda esta herança afetiva-emocional-relacional é incorporada ao recém-nascido, que, em alguns casos, ainda carrega o peso de ser chamado de Júnior, Filho ou Neto.










Manoel de Carvalho


Neonatologista






A resposta a esta pergunta é difícil; depende do ângulo que se quer abordar. Pessoalmente, penso que a vida de um ser humano começa logo que passamos a pensar nele. Ou seja, antes mesmo da concepção, quando os pais (principalmente, a mãe) já têm em mente uma imagem idealizada de seu bebê, muitas vezes com características físicas definidas, como o sexo, a cor dos olhos, dos cabelos, etc. Alguns chegam mesmo a ter um nome, uma identidade.






Para essas mulheres, a concepção, a gestação e o nascimento do filho são tão somente a confirmação e não, necessariamente, o começo da vida. Portanto, eu creio que a vida, fruto do amor, começa no coração de quem gesta.










Jacirema Cléia Ferreira


Psicanalista






Em termos concretos poderíamos afirmar que a vida começa no momento do nascimento, com a entrada do pequeno bebê no mundo. Mas, se nos permitirmos brincar um pouco com as palavras, vamos reparar que concepção tanto pode indicar gestação de idéias como de um corpo. Assim, o bebê teria sua existência iniciada antes mesmo da confirmação do teste de gravidez, quando a mulher “sonha” o seu filho e o concebe física e mentalmente.






Ou seria necessário aguardar a hora do parto, esperar que as dores e aflições cessassem, pegar o neném nos braços e dar-lhe uma sonora palmada para apresentar-lhe o mundo? A criança urra, enquanto procura acostumar os olhos à luz excessiva. O grito ecoa na sala fria. Os médicos colocam uma fita em seu pulso com um número de identificação, auferem medida e peso, verificam as reações, estimulam os reflexos, succionam sua boca, retirando resquícios de placenta, para só então decretar: a vida principia!










Walter Pinto


Geneticista






A resposta é simples, se imaginarmos que a vida começa a partir da união do espermatozóide com o óvulo. Pode começar também quando o coração passa a funcionar, bombeando o sangue para os diferentes órgãos. Ou quando a alma é incorporada, o que, para religiosos antigos seria após o sexto mês de gestação. Mas, o que é a vida? Sabemos que uma célula tirada de um tecido pode se multiplicar indefinidamente, se a colocarmos no meio de cultivo apropriado, em condições ideais de temperatura, oxigênio, umidade, e fornecendo-lhe vitaminas, aminoácidos, sais e fatores de crescimento. Isso é vida, sim, mas não vida própria.






Vida própria é uma definição mais objetiva. Se, por exemplo, a partir do sexto mês de gravidez, a mulher tiver que passar por uma cesárea de emergência, seu filho poderá ser salvo e ter vida própria. Basta que lhe ofereçamos algumas condições ideais e que ele tenha maturidade para sobreviver com saúde. Antes dos cinco meses, esta sobrevivência, se acontecesse, permitiria uma vida apenas vegetativa.






Fica difícil, portanto, aceitar, dogmaticamente, o conceito de vida própria ligada ao momento da fecundação se:


10 a 20% das gestações terminam em aborto espontâneo, por mais que o casal deseje ter uma criança. Em 95% destes casos, isso acontece por seleção natural, quando há aberrações cromossômicas, incluindo a síndrome de Down (80% dos fetos portadores da doença não chegam ao 6º mês);


quem trabalha com fertilização in vitro considera como pré-embriões os óvulos fecundados até o momento em que são colocados no útero;


um pré-embrião pode ser congelado por anos. Ele teria um espírito ou alma latentes?;


um único óvulo fecundado por um único espermatozóide pode resultar em gêmeos monozigóticos. Após um certo número de divisões, as células se separam e formam dois indivíduos iguais. Será que houve uma pré-programação de suas almas?;






Como estas, tantas outras questões polêmicas nos levam a pensar que o conceito de "começo da vida" seria uma definição pessoal, ética, de foro muito íntimo. E que deveria ser analisada por aqueles que, seguramente, tiveram um começo de vida.







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