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A verdade sobre cólicas do bebê. Por Dr. Mário Cordeiro Pediatra

A seguir ao nascimento, de cada vez que o bebé abre os olhos, apanha uma autêntica enxurrada de informação. Pior ainda se o ambiente de casa, que deveria ser de contemplação, calma e tranquilidade, está perturbado constantemente pelas visitas, telemóveis, ansiedade. Tudo isto constitui um factor de stresse muito grande. Os bebés têm que o suportar. E, logicamente, têm que o descarregar.

Provavelmente, estará ainda por nascer o bebé que não tem cólicas no primeiro trimestre de vida, mais concretamente entre as três e as dez semanas. Estes sintomas surgem numa altura muito inapropriada – quando já se regressou a casa há uns dias, se entrou em velocidade de cruzeiro e os pais começam a pensar que irá tudo correr sobre rodas. Estas cólicas surgem também numa altura em que o cansaço físico e psíquico começa a desgastar fortemente os pais e que qualquer factor negativo é muito sentido. É por isso que o aparecimento das cólicas, que toda a gente sabe que acabarão por surgir, é sempre um fenómeno indesejável e bastante mal gerido pelos pais.





Chorar é uma maneira de o bebé transmitir os sentimentos. É o seu modo de comunicar. E quantas vezes, a nós próprios nos apetece também chorar ou dar dois berros, e se não o fazemos é única e exclusivamente por vergonha? Porque é que os bebés teriam que ser diferentes nas coisas mais instintivas?



Os bebés, quando sentem a sua segurança (leia-se: sobrevivência) ameaçada, não adormecem e choram desalmadamente. Seja por terem fome, frio, desconforto, dores ou se sentirem sós. Seja porque lêem (mal, porventura, mas é a sua leitura) nos pais, nos gestos dos pais, no olhar, voz, dedos, pele, na alma dos pais, stresse e insegurança. É por isso que é essencial não perder a cabeça, por muito que custe passar uma noite inteira a ouvir um bebé a chorar.



É claro que isto é mais fácil de dizer do que fazer até porque o choro torna-se particularmente irritante e pouco tolerável. Neste (como noutros assuntos) procurem não ouvir demasiadas opiniões, porque cada cabeça sua sentença. O que funciona para certos pais e certos filhos pode não ser minimamente eficaz com outros. Vou ser sincero: não há muitas receitas que vos possa dar; terão que ser os próprios pais a perceber qual a melhor maneira de o bebé se acalmar.



Há uma tentação muito grande de apelidar de cólicas todos os momentos incompreensíveis (para nós) de choro do bebé, mas um bebé pode chorar por muitas razões: fome, fralda suja, frio, calor excessivo, sede, dor, desconforto, sensação de insegurança, necessidade de afecto, aborrecimento ou cansaço e overdose de estímulos.



Cólicas do fim do dia


As cólicas das sete da tarde ou do fim do dia, para ser mais preciso, são um “ex-libris” do que estamos a abordar: o bebé, que dormia bem, tranquilo, parece agora despertar ao mínimo barulhinho. Estremece. Abre os braços. Fecha as mãos. Encolhe as pernas e fica muito encarnado. Às vezes bolça. E chora. Desalmadamente. A expressão é de infelicidade. E nem sequer se contenta com a mamada. Quer alguma coisa e os pais não conseguem entender o que é que ele quer, o que lhes aumenta a frustração. É nessa altura que se desdobram em telefonemas e visitas ao médico, administração de preparados anti-cólicas, ouvem-se os avós, os amigos, os colegas, para saber se alguém tem a solução mágica. Mas o bebé não se contenta com nada, e não consegue dizer o que lhe vai na alma. É preciso que os pais entendam que este tipo de situação vai, com toda a probabilidade, acontecer. Trata-se de uma fase de organização do cérebro, que terá que ser percorrida para se atingir um grau de maturidade superior. Como um exame para passar de ano.



É preciso, também, que os pais retirem de cima de si qualquer sentimento de culpa, por não estarem a fazer o que deviam. É normal, faz parte da vida do bebé, ajuda-o a encontrar níveis mais perfeitos de organização e de consolo. Às vezes lá se ouve uma palavra amiga: «O meu era assim e passou. Já nem me lembro bem, ou antes, quando me recordo da minha figura até me rio de mim própria: como é que ficava tão em pânico, quando ele era um bebé normalíssimo». Contudo, outras vezes os conselhos vão no sentido contrário: «Vê lá, que se calhar é melhor ir ao médico. Faz assim. Faz assado. Dá de mamar. Não estejas sempre a dar de mamar. Dá-lhe colo. Não lhe dês colo porque o estragas com mimo.»
Ponham-se na pele de um bebé, acabado de nascer, ainda com um cérebro com muitos ficheiros para preencher, e imaginem o que é estar cheio de informação. O que o vosso bebé tem é uma overdose de estímulos. E precisa de descomprimir. De dizer «Chega!». O bebé precisa de explodir, de exteriorizar a raiva e de não se sentir num colete-de-forças emocional.



E aí aparece o choro ritmado, intermitente, que expressa um grande desconforto. Quer dormir mas não consegue dormir. Acalma-se ao colo, mas mal o pousem no berço começa outra vez a chorar com insistência. E logo ao fim do dia, quando a mãe está extenuada e o pai acabou de regressar do trabalho, cansado porque já não dorme há várias noites, e os irmãos vieram da escola e dão largas à sua energia, correndo, saltando, fazendo birras para ir para o banho ou para a mesa. Parece que o inferno aterrou directamente em vossas casa. Todavia, ao contrário do que geralmente acontece, o que é necessário é manter a máxima calma e procurar não estimular mais o bebé. Por outro lado, estando ele cansado e com medo, tudo o que lhe permita reorganizar-se (música, embalar, dar banho) ajuda. E, mais do que tudo, a calma e as endorfinas que os pais (se estiverem calmos e sem visitas e familiares a «picar») lhe podem transmitir.



Se isso acontecer, o bebé esperneia, contorce-se, dá o seu show mas depois ficará «zen» e adormecerá. E o anjinho que os pais então vêem a dormir repousadamente no berço é o mesmo que momentos antes parecia estar de mal com todos e com a vida. É esta imagem de amor e de afecto perante um ser tão pequenino, mas que já tenta resolver as situações por ele que devem contemplar e registar, e a que vos dará a força interior necessária para, no dia seguinte, e por mais uns tempos, recomeçar da estaca zero. Até o vosso bebé se organizar e passar à etapa seguinte, o que acontecerá tanto mais rápido quanto o bebé puder exteriorizar as suas emoções.
Outras razões


Para lá da cena acima descrita, existem algumas outras causas para as chamadas «cólicas do lactente», havendo possivelmente bastante mais teorias do que o número de verdadeiras causas: o ar que o bebé engole, seja por ter o nariz obstruído, seja por ainda não saber mamar e «comer» ar; reacção de intolerância ao leite de vaca (visto serem muito mais frequentes nas crianças alimentadas com substitutos do leite materno, embora o leite de vaca ingerido pela mãe possa também causar cólicas no bebé, embora mais raramente); imaturidade intestinal, que faz com que certos segmentos intestinais se «fechem», de vez em quando, provocando dilatação nos anteriores e dando dor.
Provavelmente todos estes mecanismos estarão envolvidos, embora o motivo predominante varie de criança para criança. Analisemos alguns mais detalhadamente:
O problema do ar


Os bebés engolem ar. É um dado adquirido, a denominada «aerofagia fisiológica», ou seja, o facto de os bebés engolirem ar espontaneamente. Quando chucham ou simplesmente abrem a boca, «comem» ar, dado que ainda não têm bem regulados os mecanismos de concertação da respiração e da deglutição. Por outro lado, se tiverem o nariz tapado na altura em que vão mamar engolirão muito mais ar, pela mesma razão e pelo facto de terem a boca e o nariz «tapados» ao mesmo tempo. Daí a importância de se colocar soro fisiológico nas narinas do bebé alguns minutos antes da mamada, desde as primeiras mamadas. Se o tempo estiver particularmente seco, como acontece no Verão ou quando se usam aquecedores que secam o ambiente, este problema agrava-se. Também é preciso saber que o nariz dos bebés recém-nascidos está quase sempre entupido, e isto acontece porque a nossa programação genética faz com que estejamos preparados para um ambiente que nada tem a ver com o actual, em termos de temperaturas, humidades e poluição. Assim, o nariz «de há dez mil anos» do bebé pequeno tem que ter um período de adaptação, durante o qual reage da maneira que sabe: produzindo secreções e inflamando-se, o que, num nariz já muito estreito, ainda vai provocar mais obstrução.


O tipo de tetina (ou a adaptação do mamilo da mãe com mamilos de silicone), o tipo de biberão (que permita a entrada de ar no biberão para diminuir o esforço do bebé) ou o ritmo da mamada (permitir que o bebé descanse de vez em quando, sobretudo quando é muito sôfrego) podem ajudar a diminuir a entrada de ar.


O ar, uma vez engolido, vai dilatar o intestino e provocar dor, além de empurrar o diafragma e originar soluços. Arrotar bem é essencial, e algumas crianças arrotam mal porque adormecem logo a seguir à mamada, e quando os pais lhes pegam elas enroscam-se e o esófago fica curvo, o que dificulta a saída do ar. O bebé deverá ser posto a arrotar entre o mamar nos dois peitos e no final (ou sempre que o bebé queira). Se o bebé não arrotar bem fica com a barriga cheia de ar, com soluços e mal disposto, mamando pior. Para alguns bebés que têm dificuldade em arrotar, existe uma forma que vou tentar descrever: sentá-los (mesmo sentados!!) e o pai (ou mãe) coloca-se atrás dele e tenta esticar o queixo com o indicador da mão direita, e a nuca, com o polegar da mesma mão (fazendo uma argola à volta do pescoço), e depois friccionando com um pouco de pressão nas costas, a meio mas ligeiramente para a esquerda.. É natural que o bebé se agite com as fricções, sinal de que está senti-las. O arroto chega e o bebé fica aliviado. Outra posição é levantar o bebé no ombro e dar umas palmadinhas suaves nas costas. Pode bolçar, pelo que é melhor os pais porem uma fralda sobre o ombro.


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